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A Política  em Itapetininga, a partir de Oracy Nogueira
por Jovir Filho

 

"O meu ideal político é a democracia, para que todo o homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado." Albert Einstein

 

      Quando nos voltamos às questões do presente, de qualquer forma ou com qualquer visão com que as analisemos, nunca podemos pensá-las como fatos isolados, pois inseridos ou não no pensamento fenomenológico temos de reconhecer a historicidade de tudo.

      Não por menos, no Núcleo de Estudos Histórico-Políticos de Itapetininga (NEHPI), lançamos nossos olhares aos fatos presentes sob a perspectiva histórica que os compõe, uma vez que, se hoje pululam os mais diversos comentários, por exemplo, acerca da atual administração executiva municipal, estes comentários muitas vezes nascem daqueles que teriam as mesmas ou piores condutas que tem tido o atual prefeito da cidade. Explico-me!

      Ao nos voltarmos aos estudos de Oracy Nogueira (1962) sobre a cidade de Itapetininga e sua constituição sócio-histórica, constatamos que, em capítulo sobre a formação política e de partidos nesta cidade, há o registro de que as dicotomias aqui presentes são variações de um mesmo tema desde seus primórdios, ou seja, poder e oposição misturam-se com uma naturalidade até incomum aos olhos de qualquer perspectiva democrática ou mesmo republicana simplesmente, mas comum sob a análise de quem nela esteja embebido e pouco reconheça, de fato, o que hoje poderíamos chamar por democracia. Ou seja, não visualizamos deveras uma oposição, como bem demonstrou a última eleição municipal na concorrência entre os dois primeiros candidatos.

      As relações políticas itapetininganas constroem-se praticamente em torno de mesmos nomes e, a título de exemplo, quando o Brasil passou a ter o embate entre conservadores e liberais em meados do século XIX, Itapetininga despontou como uma célula do pensamento liberal, sendo inclusive cercada por tropas do poder central em razão disto, no entanto, o que aqui havia de liberalismo fora protegido pela força conservadora, tanto pelos laços familiares como pelas afinidades, pois se tratava de mesmos sobrenomes entre os dois lados. Os filhos dos conservadores donos de terras eram os liberais que momentaneamente incomodavam o poder central, embora no embate final não representassem nenhuma mudança significativa no cenário político-administrativo, tanto menos nas estruturas sociais, econômicas e, até, culturais existentes no município de então.

     Assim, vivemos numa troca de “gentilezas” entre quem está no poder e quem está na oposição. E, como neste passado relatado por Nogueira, hoje o cenário é monotemático, ou seja, não temos significativa diferença entre quem está no poder e quem quer chegar ao poder, em clara ausência do que poderíamos chamar por democracia. E enquanto registros históricos podemos nos debruçar sobre os chamados jornais ― do século XIX, do século XX e sobre os atuais ― existentes na cidade, pois, entre uma denúncia aqui e ali, ao certo não se tem uma marcação ideológica significativa que represente, por exemplo, os reais interesses e necessidades da grande massa populacional que, por assim dizer, caracteriza-se enquanto massa meramente manipulável lendo sempre as mesmas notícias que parecem favorecê-la e não são realmente representadas no embate político.

        E é notório constatar que este monotema com aspecto de dicotomia política busca eliminar qualquer discurso contrário, até mesmo tentando atribuir a quem fuja do monotema como sendo o intransigente, por querer tratar de questões que sejam de interesse real dos desvalidos, uma vez que esta pessoa apresenta um discurso diferente e não aceita simplesmente as mesmas colocações de sempre, estampadas semanalmente nos semanários chamados jornais. Aqui a História é nossa testemunha, em seus diversos registros, e o cenário atual da política local é nossa prova de que para o bem da Política haveríamos de rever os discursos e, tanto quanto possível, rever a compreensão do que seja realmente o pensamento democrático, pois esta área do conhecimento humano centra-se antes nas práticas do que nas teorizações, ou seja, é muito fácil dizer-se democrático e fechar os olhos e os ouvidos ao pensamento alheio, principalmente tentando deslegitimá-lo. Não temos nisto uma prática política, mas uma pantomima, ao ponto de vermos nos ditos jornais da cidade o cerceamento do pensamento fundamentado em estudos e coerente com a realidade e a publicação de textos que achincalham com a questão racial dizendo não ser mais tempo de falar em diferenças de cor e de defesa do que toscamente pensa ser uma minoria, sendo que nunca tivemos tão viva a questão das diferenças raciais. Vemos neste gesto o embate do desarrazoado achismo oportunista contra a análise nascida de estudos, no entanto, o conhecimento é pernicioso e pode alterar a ordem estabelecida e, talvez, despertar a massa manipulável para sua própria realidade.

      Neste sentido, pensar Política em Itapetininga é distanciar-se da dicotomia poder/oposição e abstrair todo e qualquer partidarismo, uma vez que historicamente pouco fazem sentido as legendas. E sob esta perspectiva, devemos nos voltar ao perfil do cidadão itapetiningano, em sua formação intelectual, suas bases sócio-culturais e seu papel no cenário político-econômico, ontem e hoje.

               Para tanto, no NEHPI, evitamos ao máximo os reducionismos e mesmo as constatações registradas por Oracy Nogueira são vistas sob a luz de um leque de informações, de leituras e de debates que fogem ao máximo da superficialidade no entendimento e da fé nos estereótipos. Ainda assim, não chegamos a nada fechado, estanque e inquestionável; ao contrário, registramos a transitoriedade histórica dos entendimentos, das compreensões, a fim de pensarmos no presente e no futuro enquanto processo e processos de processos.

 

REFERÊNCIA

NOGUEIRA, Oracy. Família e comunidade: um estudo sociológico em Itapetininga. Série Sociedade e Educação, Coleção Brasil Provinciano. Ministério de Educação e Cultura, Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais. Rio de Janeiro: MEC, 1962.

Textos, estudos e reflexões.

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