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Núcleo de Estudos Histórico-Políticos de Itapetininga
NEHPI
Nós e os catalisadoresdoabsurdo
Por Bruno F. Matsumoto
O texto abaixo é a somatória de um conjunto de reflexões que me antecedem, não consiste em uma interpretação estritamente autoral. O leitor facilmente perceberá as referências das vozes que possibilitaram a minha escrita. Pontuo que não pisamos o solo acadêmico, trata-se de um processo impressionista e criptográfico de escrita, de um recorte de pensamentos sobre os processos que nos trouxeram até aqui.
Em tempos de constantes convulsões sociais, políticas e econômicas, as incertezas tornaram-se o paradigma determinante para quem busca respostas sobre o presente – temos a terrível sensação Zizekiana do cachorro que procura morder o próprio rabo e permanece constantemente frustrado. É ai que surgem os discursos messiânico-escatológicos; quando não, surge, também de forma premeditada, a ideia de um novo incerto e nebuloso, fazendo com que o processo que se engendra torne-se imperceptível. Assim é para aqueles que atribuem ao presente a qualidade de esgotado, de pós-tudo, criando uma alegoria fantasmagórica do agora, abandonados à deriva em um avião sem piloto num dia de céu tempestuoso.
O cenário é fácil: subtraídas as ideias, vence a aparência imediata. Neste incerto perigoso, são mais ouvidos os que caminham ao lado do absurdo, os que vociferam certezas pontuais e fáceis. É o momento da sedução, da retórica, da psicologia das massas, dos gestos estéticos mecânicos, do espetáculo e da força. Assim, germinam por todos os espaços os pequenos homens-catalizadoresdoabsurdo. Eles são os fracos, os que não compreendem a vida e muito menos seu fluxo – cansados de correr atrás do próprio rabo, tornaram-se (per)seguidores dos rabos alheios. Esses homens aparecem e reaparecem na história constantemente, principalmente em momentos de crise ou rupturas. O pior é saber que hoje vivemos uma conjuntura de incertezas que brotam como cogumelos depois da chuva. Sherazade, Lobão, Olavo de Carvalho, Bolsanaro, Feliciano, Rodrigo Constantino, militares; a direita extremista e a esquerda raivosa , a FTP, religiosos fundamentalistas - o que era impensável há poucos anos atrás, agora reaparece para a convocação do rebanho.
O alarde sobre um possível golpe de Estado no Brasil é a velha nova do momento; ainda ganha corpo, mas, paulatinamente, torna-se um dos protagonistas do presente incerto. A historiografia nunca dá conta de compreender os reais sentidos da relação entre os dominadores e os que se deixaram ser dominados; existem hiatos gigantescos e interpretações difusas. Pensando a possibilidade golpista, é impossível fazer uma análise estritamente econômica ou estritamente política sobre seus reais motivos. Acredito que, sobre a chegada ao poder dos homens-catalizadoresdoabsurdo e seus prosélitos, é muito mais cabível uma análise antropológica, psicanalítica e particular, que factual e determinista. Em um golpe de Estado, tudo depende do desejo dos que assim o aceitam , depende da necessidade dos órfãos de autoridade em suprir suas carências e ressentimentos – no sentido Nietzschiano - a partir da figura de um poder paternal e autoritário. Hoje podemos reconhecer essa figura inerte naqueles despossuídos do bom uso dos aparelhos auditivo, ocular e cognitivo - são os engessados, os que se apequenam diante a vida.
Precisamos compreender o tempo que se desloca, entender a ruptura e, consequentemente, o novo. Precisamos entender que não vivemos em um organismo equilibrado e evolutivo; as crises e tensões são corriqueiras e naturais, é uma condição cosmológica na qual se insere vida. Podemos nos direcionar para um momento de novas mentalidades revolucionário-afirmativas ou deixar a história se repetir como tragédia.
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