Núcleo de Estudos Histórico-Políticos de Itapetininga
NEHPI
Textos, estudos e reflexões.
"A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” Nelson Mandela
Muito mais cor - por José Roberto Rodrigues
"A verdadeira igualdade consiste em tratar-se igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida em que se desigualem." Aristóteles
Tinha eu uns 6 anos de idade, passeava com meu pai pelo Meier, bairro da capital fluminense, quando nós passamos em frente à delegacia, vimos um camburão (“Todo camburão tem um pouco de navio negreiro”, como brada O Rappa), este abriu sua ‘caçamba’ e foram retirados alguns rapazes, algemados uns aos outros. Todos negros. De passagem, um levou um tapa do policial que não mostrou constrangimento em agredi-lo no meio da rua.
Questionei meu pai o motivo daquilo acontecer, apesar dele ser um homem letrado, sua resposta não ficou registrada. A cena de violência nunca saiu da minha retina.
Muito tempo depois, um amigo meu foi preso com uma pequena quantidade de maconha ao sair de uma favela. Na mesma semana um ator da Globo foi detido com um carregamento de drogas em um hotel de Porto Alegre. Um é negro e pobre. O outro rico, famoso e branco. Um foi preso, perdeu o emprego e largou os estudos, até hoje tenta se reerguer. O outro estava na última novela das 9 horas.
Fui buscar caminhos (tortos?) para sanar estas questões. Tornei-me cientista social, penso que sempre tentei entender aqueles rapazes negros presos da minha infância, além de outros dramas (“Negro Drama” como magistralmente cantam os Racionais MC’s) que atingem principalmente a população afrodescendente e também os indígenas.
Na universidade em que cursei poucos não eram brancos, algum tempo depois a UERJ foi a primeira instituição de ensino superior a estabelecer a política de cotas no país. A universidade só aumentou seu conceito depois disso. Pesquisas apontam que o estudante cotista normalmente é mais aplicado aos estudos que os não cotistas e por isso tem desempenho igual ou superior.
Esta semana li uma matéria sobre o estudo do IBGE que aponta que a renda dos negros não chega a 60% da dos brancos. Não me causa estranheza, raramente se vê pessoas afrodescendentes como gerente de banco, não é mesmo? Outro dia fui a um restaurante japonês em Sorocaba, salão cheio, só havia uma pessoa negra no recinto. Com o esfregão na mão.
Enquanto não houver igualdade de condições e justiça social no país, as cotas étnicas são essenciais. Por mais que os conservadores digam que não precisamos de “cor”, desconsiderando assim as razões históricas da desigualdade étnico-social do país, temos a obrigação de garantir acesso das populações negras e indígenas a todas as instâncias de transformação social, como universidades e concursos públicos.
Cor. Muito mais cor!
Trecho de Haiti, de Caetano Veloso e Gilberto Gil.
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui